Em uma aula de retomada em interpretação nos foi proposta uma redação sobre cinco passos essenciais na construção da personagem. Gostei do que escrevi e tomo para mim esses cinco passos hoje na hora de pensar sobre criar um papel. Vou postar aqui com intuito de fixar o que escrevi no papel e consultar sempre que eu precisar. Quem o ler que aça bom proveito e lembre-se que o que escrevi não é regra, nem para mim, mas sim um mapa que pode me ajudar ainda muito na arte dos palcos. Bom proveito
A preparação do ator como ator e pessoa
Podemos perceber o quanto um ator almeja estar nos palcos e facilmente se deslumbra com sua própria atuação, deixa-se levar pelo público ou mesmo o extremo oposto. Em uma das primeiras discussões que tive no curso de teatro a questão sobre "o que é ser ator" foi posta em debate e nenhuma resposta fechada ou verdade absoluta foi acatada. Antes mesmo de uma construção de personagem, o ator como pessoa deve preparar-se para o inicio do estudo da arte dramática. Tomemos como exemplo uma plantação. É raro um terreno não cuidado ou sem preparo algum dar uma boa colheita. O mesmo serve para o ator sem preparo que confia plenamente na sua inspiração e seu subconsciente. Ao seu treino cotidiano de observação, treino físico, estudo em relação ao que o teatro representa e o seu peso em meio à sociedade, é que devemos colocar uma primeira atenção. Assim, com o terreno preparado é que um ator consegue dar inicio à pesquisa e criação de uma personagem.
O estudo consciente
Quem diz que ator não estuda, mente. Estudar um papel e tudo que envolva tanto a personagem, peça e criação é de extrema importância. Esse período envolve muitas partes de um estudo consciente que só tem a ajudar e acrescentar ao desenvolvimento de uma atuação que tem uso do subconsciente também. Por isso é necessário um estudo profundo do texto (caso haja) e do sub-texto, do dramaturgo, do personagem, das circunstancias dadas, de cada unidade que o texto nos proporciona, assim como dos objetivos que cada cena ou cada ato pode ter levando sempre à algo maior, um super objetivo: O que eu quero dizer coim toda essa encenação? O que o autor quis dizer com essa peça? Aonde quero chegar? Esse processo de estudo é exigente, visto que quanto mais nos apropriamos do conhecimento geral e especifico de uma personagem, mais temos a liberdade de criar em cima dela sem cair em tantas armadilhas.
A crença no que pode ser real
A experimentação é fundamental e é claro que o ensaio (que aqui não chamo de repetição, já que o objetivo é que cada vez que re-feita uma experimentação, esta deve ser acrescentada) contribui plenamente para a construção. Buscamos sempre o sentimento da crença naquilo que atuamos, procuramos viver como o personagem, nos colocar no lugar dele e usamos de "ses" tidos como mágicos que tentam a todo momento deixar nossas ações e sentimentos análogos aos da personagem que atuamos. Por vezes acabamos racionalizando em demasia, mas esquecemos da lei da ação e reação que é muito presente na vida real e deveria ser no palco. A encenação é uma busca constante pela essência e pela alma, pelo que verossímil (consciente) e sincero (inconsciente). Buscamos a fé no interior, que é real.
A interação existe
Percebemos que esse processo de preparação e criação parece um tanto individual. Parece que o ator por si só pode buscar todas as ferramentas necessárias para uma criação completa, mas no teatro também há ferramentas necessárias para uma criação completa, mas no teatro também há interações. Mesmo em um monologo há uma plateia e mesmo havendo um espectador apenas, há torcas, tanto diretas quanto indiretas. Elas [as interações] são constantes. Já dizem por aí que os olhos são a janela da alma e atores quando em comunhão direta entre si e indireta com o público deixam isso transparecer a todo momento. Fazem adaptação sem necessidade de distanciarem-se do papel, tem uma comunicação efetiva e ainda permitem-se viver de fato o papel em cada ato e palavra e mesmo em silêncio. Essa comunhão também é individual e é perceptível tanto para quem atua como para quem vê.
Coerência
Tomo a liberdade de dizer agora uma opinião muito pessoal sobre o processo de construção da personagem. Eu sempre tomo a coerência como um parâmetro essencial a ser seguido em qualquer área da vida, mesmo no processo de criação e construção da personagem. Temos que buscar uma linha ininterrupta em relação à preparação e a criação. Como já mencionei é a lie da "ação e reação". Em uma personagem por exemplo, há uma passado e desejos de um futuro além do momento em que se vive e neles todos há uma coerência de fatos que se sucedem. Sem essa coerência há sempre quebras que atrapalham o ator e o processo,. A coerência só vem ajudar nossa criação, sempre.
Ser ator, criar, participar de um processo e viver em meio à arte é uma construção que não termina, é um caminho sem fim, temos que estar cientes disso e procurar através de nossos meios e pesquisar achando a melhor trilha a percorrer. Esse processo, esse sistema não é uma regra absoluta, isso já nos é deixado claro, a busca do perfeito é constante e eterna. Novas opções surgem, mas quando bem preparado e o ator sabendo seus objetivos opta pelo caminho mais seguro, dentro de suas pesquisas, estudos, vivencias e experimentações.