quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

O último beijo

Os dois entraram naquela varanda depois de tantos meses sem se ver e depois de tantos anos sem ter um momento assim, a sós. Tinham passado por uns minutos na fila da Pinacoteca do Estado já que o ingresso no dia não era pago e parecia que São Paulo tinha combinado de ir ver Ron Mueck. A fila da volta no museu que dava pra ver da varanda que ficava aos fundos da pinacoteca.
O engraçado porém, era que o pessoal parecia só visitar o primeiro andar, e esqueciam de prestigiar a exposição permanente do segundo andar. Era ali que os dois jovens estavam.
Um vestido um pouco mais descolado e outro bem vestido, sendo que o segundo parecia tomar as rédeas do que acontecia e até da conversa e o outro parecia permitir ou não os acontecimentos.
Em um ambiente como aquele seria complicado qualquer tipo de aproximação, o fato é que o coração do Venturi batia forte, poxa, batia forte e os pés indicados para o outro jovem, não mentia o interesse sincero de quem já tinha sofrido um pouco. Entretanto o passado naquele momento pouco importava e do nada o nosso aventureiro, com o coração na mão, virou e disse "Deixa eu fazer uma coisa" e aproximou-se repentinamente, envolver a cabeça do outro em suas mãos e aproximando as bocas. Por um segundo, Venturi jurava que o outro iria esquivar, mas na realidade o beijo aconteceu.
Foi um beijo doce, um beijo perfeito, digno que cena de filme e páginas de delírio em um livro.
Venturi se entregou e do nada parou de se entregar. É como se o diretor da cena pedisse para parar por mais que o beijo continuasse. De alguma maneira a energia pareceu ser interrompida e foi aí que o beijo que parecia recíproco, tornou-se oco do outro lado. E pareceu, por aquele instante, que os quatro anos de história só valeram pro Venturi, e que a ideia fixa de um louco apaixonado, fixou-se tanto na cabeça do outro que só restou a atração e o tesão básico de alguém que nunca teve fogo nem pra um olhar sincero.
Venturi viu-se liberto, porém como escravo dono de si, doou-se mais sem desistir de ter o que ele nunca conseguiu encontrar em quem de certa forma, um tanto quanto platônica, amava, o coração.

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