"Eu preciso
falar com alguém, com alguém não, com você! Estou onde você sempre quis me
encontrar. Vem!"
Eu estava lá
30 minutos depois. Desci na estação, chuva apertada e o céu escuro e fechado em
pleno dia de verão.
As pessoas
corriam pra se esconder da chuva e os guarda-chuvas eram a única cor que
coloriam a avenida onde carros passavam devagar com os para-brisas ligados. Eu
com minha camiseta social rosa desabotoada em três botões, calça jeans preta e
sapato social depois de um dia de trabalho que eu não queria voltar pra casa.
Sem guarda-chuva eu andei sem olhar para os lados, atravessei
duas ruas e virei à direita, prédios cercavam aquela praça de pedra com algum
verde pra disfarçar a rigidez que o lugar trazia em si.
No segundo banco de pedra, no mesmo onde se dera o primeiro
beijo, o primeiro contato, o primeiro oi... Ali ele estava sentado, também todo
molhado da chuva, com sua camiseta moletom, sua jeans e seu tênis. Cabeça baixa
e sem ligar para o banho de chuva que estava tomando.
Parei para admirar o menino, mas foi o tempo dele levantar o
queixo e vir em minha direção sem sorrir, sem chorar, apenas com o foco da
minha boca que refletia em seus olhos.
O
toque do lábio que eu esperava ateou fogo na chuva e fez do dia escuro, luz. E
da chuva, ácido que corroía o passado que já não tinha mais valor.
“Vamos
combinar uma coisa no pé do ouvido, um segredo nosso, só nós dois? Vamos ser
felizes daqui pra frente e esquecer que o mundo existe?"
Não
respondi com voz, respondi com o olhar e o olhar dado foi o mesmo que anos
antes se deixou mergulhar em beijos, promessas e futuros que poderiam não
existir.
Entendi
então o significado de “morrer” que tanto li em poemas. Não era parar de
respirar, era apenas querer que aquele momento não acabasse e se acabasse que
eu morresse por saber que não mais viveria momentos com tal intensidade e
importância depois daquele.
E
o romance que tanto escrevi ali teve seu fim e seu inicio, mas isso é outro
livro que o tempo se encarregará de escrever.
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