Fim de festa
O quanto a gente muda com o tempo. E o quanto mudam com a gente. As lágrimas mudam de peso, as faces mudam de importância.
Dizem que um sintoma da depressão, da tal doença moderna, é a perda de perspectiva. E eu estou me achando sem perspectiva mesmo com persistência. Não acho que sou do tipo depressivo, mas do que dá foque À problemas e faz tempestades em copo d’água.
Lembro-me saindo do ensino médio me achar preparado para viver o mundo, mas não é bem assim quando nem ao menos se sabe cozinhar ou lavar a roupa.
Eu me confundo muito ainda, mas já sei fazer algumas escolhas e por mais que algumas delas sejam sem pensar, elas caminham. Só param se eu dou um ponto, é verdade que tem escolhas que dão conseqüências grandes, aquelas onde pagamos um preço alto por ter feito. A lei da ação reação.
Não sabia que escolhendo escolher minha vida eu perderia uma irmã e metade de uma mãe-pai, já que pai (por força do destino e um acidente fatal de carro) nunca tive.
Família grande, logo só considero e sempre só considerei como família mesmo e realmente, minha mãe e minha irmã. Os outros sim continuam e ser família e há muitos que amo verdadeiramente por mais que o contato seja mínimo, como meu irmão, meu sobrinho, minha madrinha, minha falecida avó.
Voltando ao eixo, é minha mãe e minha irmã que eu tenho como família. Batalhas de minha mãe me deixaram onde estou e minha irmã sempre foi meu alicerce e modelo a ser seguido, a ser copiado. Fazer escolhas me fez perder uma irmã e metade de uma mãe!
Eu não mudei, se mudei foi para melhor. Mais amadurecido, o menino que achou que estava preparado par ao mundo abriu os olhos e aí começou a sua preparação, desistindo de uma faculdade e encarando um curso profissional de teatro, especializando-se em inglês e francês, tentando aprender a cantar e dançar. Dando aulas de inglês, trabalhando em um musical. São muitas as escolhas e mudanças. Lá uma vez vai para uma balada, Às vezes beija alguém no máximo. É reservado e tímido, sabe nomear suas qualidades e defeitos. E por essas escolhas perdeu uma irmã e metade de uma mãe.
Minha relação com minha irmã sempre foi sadia e boa, um amor recíproco e sincero. Brigas feias como de qualquer outro irmão, mas respeito também. Hoje já não se briga, pois não se fala, não há mais respeito. Não sei se de minha parte a questão de respeito, pois nunca injuriei as escolhas ou determinações da vida de minha irmã. Mas por causa de minhas escolhas que foram essas que escrevi e uma ou duas mais relevantes, perdi minha irmã. São as conseqüências. A reação a minha ação de independência de escolha.
Não sei do futuro, mas ela vai fazer falta. Eu não vou parar minha vida por causa dela, mas perdi um sorriso por tê-la como irmã, perdi metade da minha família.
Minha mãe me ama, mas é uma coitada tanto sem perspectiva quanto eu, a perdi pela metade, pois o que me mata é não vê-la sorrir pelo filho que tem. Eu não sou uma pessoa má, mesmo querendo ser mau, sou uma pessoa boa. Eu idealizo e busco, mas mesmo assim não vejo minha mãe feliz comigo.
Contabilizando então, perdi 75% da minha família.
Hoje conversando em uma padaria no centro de São Paulo com um amigo que isso me faz um pouco de mal. Deve fazer também as duas, mas como não há diálogo, nada posso fazer. Amor de meus amigos, aqueles melhores que estão comigo há tempos ou que me amam, tanto quanto os amo... Esse amor eu tenho. Respeito e confiança são o que muitos amigos meus já ganharam de mim com o tempo e sempre me terão assim como sempre os terei. Só para citar alguns, tenho a Ná, a Mary, O Igor, o Vinicius, a Elaine, a Sara, o Uedson... enfim. São muitos.
Mas amor de família é algo que eu sinto falta, que eu me vejo o quão sozinho estou. Tanto quanto um amor de casal, esse eu sinto falta de doer no coração. Pois quando na família eu não encontrava um apoio ou uma base era nesse amor que eu tinha, que eu recorria, e ambos são muito diferentes do amor de amor, de casal. Desse eu sinto falta e não sei tratar,me vejo só, mas tudo bem.
Já estou no meu fim de festa mesmo. Sozinho? Não. Eu tenho a arte.
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