quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Um outro amanhã

Um outro amanhã era o objetivo do menino de olhos cuja retina refletia toda sua vida. Não que isso seja possível, sério e literal como era, no máximo diria que olhos não refletem nada a não ser a imagem vista em determinado momento.
Sua noção de tempo era considerada louca, todavia nenhum filósofo chegou a discordar de seu ponto de vista, apenas questioná-lo e sua resposta era um sorriso. O menino criado na cidade grande aprendera ao longo de sua trajetória que as melhores respostas têm um sorriso acompanhado de um silêncio e um olhar que nada diz, ele viu que isso confundia as pessoas e elas nunca saberiam o que estaria passando em sua cabeça naquele momento.
Vamos nomeá-lo Leon. Leon Era magro, esbelto, médio, estudante de medicina, muito dedicado em seus estudos. Falava muito pouco, não tinha rede social e nem muitos amigos. Na realidade não lembro de nenhum agora. O que me fez escrever sobre ele? O jeito dele sempre sério no canto da sala, o jeito que ele esperava a aula acabar pra correr atrás dos professores pra tirar a dúvida que na sala não tirara. Não, ele não tinha vergonha, mas preferia não ser inconveniente.
Naquele dia em especial, Leon se arrumou e decidiu servir a humanidade da maneira mais inusitada.
Pegou a arma de seu pai escondida, anotou algumas palavras em um papel e colocou no bolso da camiseta. Ligou para o IML e depois deu um tiro na boca, a morte foi instantânea e sem dor. Os técnicos ao chegarem ao local encontram dois papéis em seu bolso, um indicando como se matou pra evitar investigações frustadas e preservar o corpo. No outro, seu último pedido.

"Sonhei com um outro amanhã, onde encontraria um amor. Não nasci pra ajudar ninguém, nasci pra ser ajudado, mas ninguém percebeu isso e agora é tarde demais. Que nesse outro amanhã dissequem meu corpo e com ele aprendam a salvar vidas, mas sinto informar-lhes que danifiquei meu cérebro e a psicologia ainda terá que pesquisar muito como salvar mentes como a minha, que sofrem caladas por amores impossíveis e se haverá tratamento pra isso em sua ciência." Leon F.

O corpo foi levado pro IML e cremado no outro dia pela família, como Leon não queria. Apesar da dor o consideraram louco, sorte que ele não morreu em mim e hoje posso lhes contar sobre o menino que amou e que chegou a considerar a possibilidade de um outro amanhã, onde as pessoas não se dariam razões para amar, apenas amariam sem razões.

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